quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Consciência negra III - identificação cultural x personagens afro-descendentes

 Olá amigos, 
A nossa ideia de hoje  aponta para um fator importantíssimo quando se trata de leitura e, mais ainda, em se tratando de literatura voltada para os pequenos leitores:  a identificação positiva com o(s) personagem(ns).
Não é novidade nenhuma, pelo menos para alguns mais atentos às ideias da vida, que todas as gerações de leitores infantis, até ontem, bebiam do imaginário de obras clássicas, contos de fadas de renome internacional e atemporalmente consagrados (e nisso incluo também o Sr. Monteiro Lobato, mas esse é um caso sério de estudo a ser passado completamente a limpo e não pra hoje, nem em uma única postagem, com certeza), entretanto, para meninos e meninas negras(e neste grupo etário eu me incluo) as referências eram inexistentes, ou pior,  eram apresentandas em situação de inferioridade, subalterna  depreciativa. Coisas do etnocentrismo.
Bem, paro de tagarelar porque hoje a fala não será minha. 
A professora  Maíra Suertegaray deu-nos o prazer de compartilhar com o Ideias de Canário uma experiência bem pessoal como mãe e escritora que busca exatamente o tipo de identificação étnica de que se falou acima para os pequeno leitores, sejam eles afro-descentes ou não. Com a palavra, a escritora Mayra Suertegaray:


Como entrei no universo literário Infantil?

Como comecei a escrever para crianças? Como professora de sexto e sétimo anos, buscava novas formas de trabalhar Geografia, formas mais lúdicas, leituras mais agradáveis com fantasia e, ao mesmo tempo, com conteúdo científico. Mas, como foi difícil encontrar. Por outro lado, minha filha de 3 anos começava a despertar sua curiosidade sobre as coisas ao seu redor, sobre os fenômenos da natureza, sobre o Sol, a Lua, as estrelas...
Dandara, a menina com verdadeiras Ideias de canário.
Por que não unir as duas coisas? Na hora de dormir, Dandara e eu conversávamos sobre estas curiosidades infantis tão próprias da idade e as histórias começaram a surgir. Foi assim que nasceu a história de “Dandara, o Dragão e a Lua”, narrativa que fala de uma menina muito curiosa que adora o céu. Por ser muito atenta e observadora, descobre muitas coisas, mas também tem muitas perguntas... A partir desta paixão, Dandara e seu dragão mágico partem para uma viagem pelo espaço na busca de trazer a Lua e as estrelas pra seu quarto.
História pronta, as imagens começaram a brotar na minha cabeça. De uma coisa eu tinha certeza, a Dandara seria a Dandara, ou seja, uma menina mestiça filha de mãe branca e de pai negro e sua família seria a nossa família. Seria uma personagem principal afrodescendente. Foi esta informação que dei a ilustradora Carla Pilla, amiga de infância e artista excepcional na arte da ilustração. Ela fez a mágica.
Como professora e mãe vejo o questionamento das crianças sobre “Onde estão os heróis, as princesas e os príncipes negros?” Pois é, onde estão as referências para este público infanto-juvenil?  Mais uma razão para a defesa desta personagem.
E Dandara, de fato, alçou altos voos. Fiz e continuo fazendo contações de histórias em várias escolas para crianças da pré-escola até o 6o ano do Ensino Fundamental e cada uma delas me traz ensinamentos incríveis. O personagem da Dandara ensina através de suas perguntas e desperta nas crianças ainda mais curiosidade. Isto, para mim, mãe e professora, é fundamental.  A curiosidade dá significado para aquilo que se aprende, a curiosidade impulsiona o desenvolvimento da criança. Precisamos estimulá-la sempre.
É com base nestes focos que sigo escrevendo minhas histórias para os pequenos. Escrever livros é difícil, o espaço precisa ser conquistado e ainda é muito restrito para novos autores. Mas insisto, pois vejo uma lacuna a ser preenchida, tanto no que se refere aos livros literários com conteúdos científicos que podem ser trabalhados nas escolas, como quanto aos livros com personagens afrodescendentes que sirvam de referencias para as crianças, personagens com os quais elas se identifiquem e se orgulhem de suas origens.
Por isso, aguardem: novas aventuras da Dandara virão por aí!
Maíra Suertegaray (Profa. Dra. Depto. Humanidades do Colégio de Aplicação da UFRGS



             Leitores de todas as idades, em especial os pequenos, aguardam por mais iniciativas como essas. Que às próximas gerações seja dada não só a história para ler, mas também um universo onde ela possa também reconhecer-se suas origens étnicas.
À  professora Maíra, fica nosso muito obrigada pela participação,  parabéns pela iniciativa e votos de sucesso (garantido, com certeza) em suas novas incursões pelo mundo encantado da literatura infantil.
Amigos, até a próxima ideia
Cármen Machado.

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Um comentário:

  1. Olá querida amiga Maíra.Fico feliz e orgulhoso com teu início positivo como escritora. Acho que encontraste o nixo certo para tua proposta: os heróis que ainda não foramm descobertos, isto é, de etnias variadas, fugindo da mesmice dos heróis louros de olhos azuis. Tua proposta, com certeza, vai de encontro à uma carência em nossa educação em geral: a formação de cidadãos que conheçam suas origens e tenham orgulho de suas etnias e, principalmente de serem brasileiros.Acertaste "no alvo" pois, pelo que tenho visto, a Dandarinha, com seus seis aninhos, já tem fismesa e convicção de quem é e o seu lugar no mundo. Conta sempre com este amigo velho. Beijo. Eri.

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