quarta-feira, 18 de junho de 2014

Alecognição: Uma batalha entre o bem e o mal

Olá meus amigos das ideias!!
Saudades deste espaço, de estar compartilhando essas ideias de canário inspiradas pela boa literatura. Mas a vida é a vida, tempo e vontade quase nunca andam na mesma direção (pelo menos no meu caso).
Então, a canarice* ( inventei essa palavra agora?)  de hoje é cumprir um compromisso que já fez aniversário. Parabéns pra mim pela incompetência, mil perdões ao meu amigo  Leo Vieira e  chega de papo furado. Vamos logo à resenha: Alecognição**



Autor: Leo Vieira
Editora Lexia/2011
313 páginas
Brincadeiras, diversão, jogos, bola, peteca, carrinho de rolimã,bicicleta, bichinhos de pelúcia (estou falando das brincadeiras da minha época, é claro ...)*** são coisas  certas e totalmente inocentes na vida das criança, não é mesmo? 
"Peraí", gente... eu coloquei "bonecas" e "inocentes" na mesma frase? Força do hábito.
Em Alecognicção, escrito por Leo Vieira, esse campo semântico tão pueril  é invadido por elementos de outro mundo, literalmente.
O autor nos leva a acompanhar em terceira pessoa  a trajetória de Galileo a partir de seu quinto aniversário. O garoto, é claro tem muitos brinquedos e entre eles estão alguns bonecos muito especiais: Nasalvo, o fantoche azul, Pupi, o  cãozinho simpático e de pelúcia marrom são dois deles. Até aqui, nada de novo, criança é criança; brinquedo é brinquedo e tudo é mais ou menos como goiabada com queijo (ou, no caso de nós, gaúchos, rapadura com chimarrão).
http://www.laboratoriopop.com.br/temporeal/mgm-produz-remake-de-chucky-o-boneco-assassino/8173
Mas para o jovem Galileo nem tudo é o que parece e as coisas no seu mundo estão mais para o lado do Chucky*** do que para conto de fadas. 
Conforme vai crescendo Galileo vai percebendo que as coisas a sua volta tem uma dimensão a mais do que apenas a aparente. Vai percebendo também que tem um papel importante na luta entre as forças opostas que  se debatem. Sob o véu da normalidade, das brincadeiras do dia-a-dia, de seus bonecos e mesmo das relações de amizade e parentesco de sua vida, uma batalha pelo domínio da humanidade está acontecendo. Uma batalha entre o bem e o mal. O presente de Galileo está ligado a um passado e, com certeza, ao rumo do futuro, no qual ele é  uma peça-chave.

"- Jovenzinho, muitos enigmas custam uma vida para serem compreendidos. No seu caso, não será tanto assim. Tudo está se evidenciando porque o seu mundo precisa de você. - diz o pombo.
- Como assim, o meu mundo? eu sou somente um entre bilhões de indivíduos. O que faço ou deixo de fazer, não contribuirá em nada. - diz Galileo
- Isso é o que você pensa. diz o pombo. -Nós somos os heróis de nossa própria história(...)" (pág 81)

Que "há mais mistérios entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia", Hamlet já sabia(e se não sabia o fantasma do pai contou). 
Mas e nós, em nossa modernidade digital, percebemos isso? Estamos preparados para perceber aquilo que não se materializa diante de nós compartilhado no Facebook?

"Os presentes, para alguns, podem não significar nada, mas, para o menino, sim. São apetrechos que, em conjunto, serão essenciais para a formação de uma grande jornada, cercada de enigmas e,simbolismos. E todos estarão presentes, auxiliando ou não."(pág.2 )


Leo Vieira com certeza trabalhou com muita criatividade e acertou em ousar uma temática ampla nada simples de ser abordada. Mitologia? Misticismo?  Realismo mágico? Fantasia? (ai, meu Deus, quase digito "paranoia ou mistificação?")
E mais, dependendo do ponto de vista do leitor, esse foco pode mudar. Mesmo uma segunda leitura pode sugerir uma nova interpretação ou um aprofundamento nos vários assuntos que permeiam a narrativa de Alecognição(segue o link e marca lá no Skoob, vai), como o poder de manipulação da mídia, por exemplo.
Enfim, um livro que pode ser lido de várias forma. E vale a pena ler.
Ah! Acabo de me lembrar de uma boneca Susi, que eu tinha cuja cabeça com tocos de cabelo ruivo, não sei por que eu sismei de arrancar. Ela tinha os olhos azuis, a mesma cor da roupa do Penalvo e dos olhos do Chuky. Vai saber, não é, Leo Vieira. Aquela cabeça rolou pela casa e pelas caixas de brinquedo por um bom tempo...



* s.f. comportamento característico dos canários, ou daqueles que, no sentido Machadiano, se comportam ou concordam com as "ideias do canário"


***  Leo Vieira, se tu  fosses modernizar a narrativa substituindo os brinquedos do Galileo por PSP, X-box, etc. como ficaria?

****Chucky, esse mesmo, o boneco assassino, aquele que sempre volta e numa dessa arrumou até uma noiva e um filho.(não vi o  filme e não posso deixar de me perguntar: Como assim???)


Leo Vieira, autor de Alecognição, nascido em são Gonçalo/RJ.Também ator, dublador, é membro da Sociedade de Artes e Letras de São Gonçalo.