segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Diversidade x Literatura


LITERATURA FEITA POR POUCOS PARA POUCOS
Pesquisa revela perfil dos escritores e personagens da literatura brasileira contemporânea                                                                                                              
 Perfil dos escritores basileiros  é como  o de seus personagens: homem e branco*

Porto Alegre, segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
--------------------------------------------------------------------------------  

Olá, amigos.
Venho hoje para trocar uma ideia de canário com vocês não sobre um livro ou autor em particular, mas sobre um aspecto literário mais abrangente, a propósito de texto veiculado, hoje, no jornal Zero Hora.
A referida matéria, cuja chamada (acima) e infográficos (baixo), apesar de não causar nenhum, espanto(ao menos para mim),  com certeza merece  uma reflexão de nossa parte, como leitores e cidadãos intimamente interessados na questão da diversidade nesta democracia racial em que vivemos.

Despertou-me, então,  a curiosidade de saber a opinião/visão dos amigos das ideias sobre a tal questão da "diversidade"(ou falta dela) na nossa literatura brasileira apartir dos resultados da pesquisa,  coordenada por Regina Dalcastagnè - Universidade de Brasília,   que apresenta em números percentuais muito significativos os perfis de escritores e personagens enquanto masculino ou feminino, negro(a) ou branco(a), atividade profissional e posição social.
Proponho aos amigos interessados em queimar(não me agrada muito essa definição, preferia usar o verbo "acender") alguns neurônios com a questão que acessem os links nesta resenha ou o próprio periódico, leiam a matéria, reflitam e, na medida do possível, publiquem seus comentários por aqui ou na nossa fan page.
Propositadamente não aprofundei as informações ppropostas na matéria para que cada um  faça sua própria leitura, mas não posso deixar de registrar uma questão bem particular: hoje pela manhã, fiz a leitura do jornal como um todo e da matéria sobre a diversidade literária; fiz minhas "lides" feminis (afe!), fui para o trabalho  e, desde às 18h estou trabalhando nesta resenha (vai haver janta aqui em casa hoje ou não? hshshs).


 

Finalizo, caríssimos, deixando para sua análise algumas repercussões dos resultados da pesquisa registradas  na versão digital do jornal  ZH.


"Minha experiência como poeta e escritor em Porto Alegre me ensinou que o desconforto é mútuo, isto é, às vezes represento o outro, o estranho e, de outra parte, os demais escritores, que deveriam ser o que chamamos "os [meus] iguais", formam um grupo com o qual não alcanço a menor identificação. Felizmente, a contragosto do solo, a literatura brasileira tem uma série de artistas que (não direi que fugiram) afrontaram esse "perfil médio": Machado de Assis, Cruz de Sousa, Orides Fontela, Oliveira Silveira. Alguém argumentará que eles são exceções que confirmam a regra, mas, lembrando Jean-Luc Godard, digo que o cânone (o convencional) é a regra, a arte é exceção, mesmo."Ronald Augusto, escritor

"É inevitável ver dados como esses e não lamentar. Todavia, acho importante fazer uma distinção: é claro que seria interessante ter uma literatura que refletisse melhor a heterogeneidade da população brasileira, mas disso não podemos concluir que a literatura tem a obrigação de refletir essa heterogeneidade."
Daniel Galera, escritor



 "É uma sociedade mestiça, mas na literatura predominam os brancos porque são um grupo que recebeu mais instrução. Hoje, o acesso de grupos mistos à universidade é maior, mas essas pessoas de que estamos falando foram formadas nos anos 1970. Pode ser que no futuro haja maior equilíbrio."
Regina Zilberman, professora da UFRGS



 "É provável que escritores saiam das camadas mais educadas da população, onde a maioria é branca. É natural que escritores em geral falem de universos próximos aos seus. Agora, como na resposta anterior, isso é uma análise mais qualitativa que quantitativa. Quanto a gêneros, é uma discussão mais complexa, e não dá para esperar que seja 50%-50%."
Michel Laub, escritor



Bora botar nossos dedos, que tantas páginas viraram(e ainda virarão), nesse vespeiro?
Aguardando por   suas manifestações.

Abraços a todos,
Cármen Machado.


6 comentários:

  1. Não sei se os dados referentes à baixa diversidade étnica podem ou não ser classificados como lamentáveis. Mas com certeza devem ser encarados com naturalidade. Vejamos... Por que existem mais funkeiros negros que brancos? Por que há mais jogadores de vôlei brancos que negros? Por que o universo das bandas de rock é dominado por brancos e, por sua vez, o mundo do samba, por negros? Por que no futebol há uma maioria de pardos e negros entre os jogadores? E por aí vai.

    Essas situações se devem apenas ao fator “oportunidade”? Afirmar isso seria um passo para defendermos a aplicação daquela odiosa teoria da vitimização, em que adotamos medidas protetivas extremas para compensar ou defender os supostos excluídos em uma certa área. Com certeza, o caminho para solucionar o “problema” apresentado na postagem não é esse.

    Não parece lógico considerarmos os não-brancos como segregados e marginalizados na literatura, seja porque não estariam tendo iguais oportunidades como escritores, seja porque estariam sendo quase sempre retratados nas histórias como personagens de menor importância social. Talvez devêssemos considerar também os fatores “realidade” e “interesse” dos não-brancos ao analisarmos a questão.

    Quanto às mulheres, achei estranho o percentual de 27,3% de autores do sexo feminino. Qual a fonte desses dados? A minha impressão é que a participação delas é muito maior no cenário literário.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Sérgio!
      Muito lúcidos teus questionamentos e, com certeza, os resultados desta pesquisa devem ser ewncarados com "naturalidade" se levarmos em conta o contexto etnocêntrico da formação da nossa sociedade brasileira.
      Para longe de descartar ou amaldiçoar toda a excelente literatura que "vivemos" até o momento, considerar os aspectos históricos e coisa e tal, não dá pra negar que, mesmo depois de anos de bancos escolares (Universidade, inclusive) não seja possível fazer uma menção mínima de personagens negros da literatura brasileira, incluindo aqui a do (dou-me a liberdade de chamá-lo"meu"- rsr) Machado de Assis cujos perfis não tenham sido esteriótipos do marginal, bêbado, malandro, escravo, mucama, empregada doméstica ... (se eu continuar a lista isto vai virar outra postagem) e isso não podemos negar.
      Confesso que essa noção só ficou clara e permanece presente comigo desde há muito pouco tempo e tornou-se meio que objeto de observação constante. Sem ranço étnico, rancor ou qualquer coisa
      do tipo. Achei oportuno lançar esse questionamento através do blog aos escritores pensando em seus personagens porque, se formos falar de escritores negros, ai, então uma postagem só não basta.
      Em resposta a tua pergunta sobre a origem da pesquisa, reforço apenas os dados linkados na postagem: o jornal Zero Hora a partir de pesquisa corrdenada por Regina Dalcastagnè da Universidade de Brasília, realmente não fui atrás de confirmações "in loco".
      Como leitora e afrodescendente e mulher e educadora da área de Língua Portuguesa, confesso que o assunto interessa-me profundamente pois passou a ser uma preocupação ao indicar leituras para meus alunos com o máximo de novas ideias (tanto quanto seja possível e pelo menos nesse aspecto sem descuidar dos demais).
      E eu que não queria fazer outra postagem... dedos: parem já!!!
      Muito obrigada pela tua sempre preciosa participação como amigo e como escritor, afinal ainda tens uma galeria e tanto de personagens para criar, não é mesmo?

      Abraços literários,
      Cármen.

      Excluir
    2. Cármen, acho que sua abordagem está correta. Devemos, de agora em diante, tentar mudar a situação dos personagens negros em nossos livros. Não sei se essa mudança deve vir da "realidade real" para a realidade fictícia ou vice-versa. Ou se está valendo ambas as vias. Fato é que isso deve acontecer de forma natural [insistindo na palavra :) ], pois não adianta querermos forçar a barra e criarmos uma literatura desantenada com a verdadeira cara da sociedade.

      O que parece estar faltando nos escritores é uma percepção (ou um destaque dessa percepção) de que as coisas estão mudando pouco a pouco (o maior atleta do país é negro, o presidente do STF mais expressivo e mais respeitado pela sociedade em todos os tempos é negro etc. etc.). Assim como você, espero que os literatos tenham sensibilidade para captar essa realidade e, com coragem, passem a apresentá-la.

      Triste é ver algumas iniciativas desengonçadas de valorização dos negros, como a mais recente versão cinematográfica de O Morro dos Ventos Uivantes. O filme – em si, uma verdadeira porcaria – apresentou um Heathcliff negro, o que é algo tão ridículo quanto apresentar Machado de Assis como branco (eu passei todo o meu tempo de escola achando que nosso maior escritor tinha cabelos lisos, pele alva e traços finos, pois é assim que o apresentavam nas ilustrações). A palavra-chave na tentativa de darmos aos negros – na literatura e nas artes em geral – a valorização que merecem é “coerência”. Caso contrário, o tiro sai pela culatra.

      Excluir
  2. Muito interessante!
    Precisamos expandir o mundo literário!
    Parabéns!
    Depois olha os novos textos em meu blog → http://diogo-pimenta.blogspot.com.br/

    Um forte abraço e fica com Deus.

    ResponderExcluir
  3. Olá. Procuro fugir de assuntos que abarcam política, credo, raça, opção sexual... São temas que ao menor deslize nas palavras, uma colocação verbal mal posta é o suficiente para causar a insatisfação e até a ira dos que estão do outro lado, mas resolvi dar um pitaco sobre o assunto.
    Antes de adquirirmos uma profissão, de praticarmos Hobbies, de professarmos uma religião,... somo humanos e contrariando a tal "LIBERDADE" proclamada e incentivada pela filosofia, pela literatura e pela industria cinematográfica. Estamos e sempre estivemos aprisionados em mecanismos, em engrenagens que comandam o funcionamento de cidades, de nações. (Muitas delas injustas)
    Basta estar na condição humana para ser seduzido e grande parte das vezes arrastado para a preguiça, para a acomodação, para a inercia. Além desse aspecto poderoso e comum a todos, há uma agravante, há uma aditivação nesse comportamento, quando nos referimos a um povo que sofreu as mais variadas formas de violência e castração.
    A precariedade de oportunidade que assola os negros, nos mais variados aspectos positivos que englobam os diversos mercados de uma sociedade, de uma nação, são resultados óbvios de subserviência imposta e injusta, de tratamento desumano e de covardia. Entretanto, hoje as oportunidades estão para todos e óbvio que os negros ainda ocupam em menor número os melhores postos, mas não tardará para que eles ocupem o lugar que merecem.
    É necessário porem que quebrem o circulo vicioso que herdaram dos seus antepassados e que passem a usufruir da "Liberdade" que a democracia assegura atualmente. (Liberdade implica responsabilidade)
    Observem a quantidade de candidatos que se aglomera onde ocorrerá uma prova para concurso publico. 10% são de negros. Já foram menos. As inscrições estão abertas, há como conseguir isenção de pagamento de taxa.
    Não tenho dúvidas de que nossos irmãos afrodescendentes ainda sofrem com muitas desvantagens, mas as oportunidades estão aí para todos. Hoje temos grandes exemplos de pessoas que assumiram honrosos cargos e que possuem alto teor de melanina.
    A conquista de dias e oportunidade melhores é inevitável e merecida. Os injustiçados de outrora alcançarão os mais variados patamas que a humanidade oferece, inclusive na literatura.

    Marco Antonio Rodrigues.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Marco Antônio.
      Muito grata pela tua manifestação, é necessário mesmo o enfrentamento, mesmo que deslizes ocorram pois só dessa forma a inércia a que te referes será deixada de lado.
      Conhecermos nossas raízes, nossa história, a ancestralidade do Continente Africano tão bem como nos ensinam o passado histórico da Europa, da Grécia e do Egito, que, alíás fica no Continente Africano, mas quando estudado no currículo escolar parece que é um território que "flutua", com cor e características étnicas diferentes de boa parte do resto do Continente.
      Perdão pela demora em responder, mas a vida de professora, estudante e mãe não tem me deixado muito livre para esse prazer que é interagir com os amigos que por aqui me dão a honra de compartilhar suas "ideias de canário".
      Abração, sinta-se a vontade para comentar sempre que quiser.
      Cármen Machado.

      Excluir