quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Contos de fadas: da fantasia à realidade


Contos infantis tornam-se adultos, Sun Holiver

Editora Movimento, 2010
120 p, ISBN 978-85-7195-166-2
Que tal aproveitar a onda revival pela qual os clássicos infantis passam,  no cinema, por exemplo com Branca de Neve e o caçador,para falar também sobre novos olhares lançados sobre os contos de fadas na literatura?
É fato que, desde que Bruno Bettlheim analisou a influência dos contos de fadas tradicionais sobre o público infantil, muitas outras publicações com essa tendência surgiram, o que sempre torna a leitura interessante para nós, adultos de cabeça feita. Afinal de contas, quem, na infância, não escutou histórias sobre os longos, loiros e belos cabelos que lançaram Rapunzel da torre direto para os braços de seu amor? Quem não torceu, a cada migalha de pão encontrado, por João e Maria, enquanto, procuravam o caminho de volta a casa, para desgosto da sempre e cada vez mais malvada madrasta? E, sejamos sinceros, as lentilhas que a Borralheira teve de catar para ir ao baile, deveriam ter sido socadas goela a baixo da outra (a madrasta que, assim como o mordomo, é sempre culpada nestes  casos).
Sun Holiver, em Contosde fadas tornam-se adultos, não se propõe a resolver essa trágica questão entre belas, torturadas e infelizes mocinhas e suas madrastas e bruxas (sempre de plantão), por outro lado, questiona sob uma ótica adulta, como o próprio título sugere, a presença de um elemento específico nesse universo tão feminino.
     Por favor, caro amigo das ideias, não entenda a expressão “ótica adulta” que usei acima como sinônimo de pomposo ou científico, acadêmico, chato, cansativo...
        Nada disso!
     Para além das análises psicanalíticas já conhecidas, a autora inova ao abordar a simbologia por trás desse elenco, presente em nosso imaginário desde a infância gerações após gerações, pelo menos até agora. De forma muito bem humorada, Sun Holiver conduz nosso olhar para aspectos que, ao lermos -  ludicamente, apenas -  não chamariam a atenção. 
    Foram seis "contos de fadas" por ela escolhidos: Chapeuzinho Vermelho, Rapunzel, João e Maria, A Gata Borralheira e a “hollywoodizada” Branca de Neve, sobre quem  a autora fala, já na Introdução:

“Certa vez, lendo sobre Branca de Neve, decidi analisá-la fazendo uma crítica sob uma nova ótica. As ideias começaram a surgir em quantidade. Eram de todos os tipos. Selecionei-as, registrando-as com cuidado. (...) enquanto lia, vinham-me à memória infinitas relações dessas histórias com fatos ocorridos não só na minha vida como na de pessoas que eu conhecia.” (pág. 9)
             
     Imagine, então, leitor e amigo, que aspectos seriam esses? Que poderiam os irmãos Grimm, na Idade Média, terem escrito e que viesse  despertar (compartilhado, curtido e tuitado) no nosso ultramoderno e digitalizado inconsciente coletivo? 
São muitos, acreditem. Basta pensar, em relação a cada um dos contos, sobre o papel de determinados personagens? Que fazem? Como atuam? Onde estão em  momentos cruciais da vida das heroínas? E mais não digo. Deixo com vocês um trecho que, tenho certeza, será reconhecido de pronto, nem preciso dizer de que história se trata:

“A pergunta que me inquieta e que ficará perturbando a minha mente é a  seguinte: Onde estava...........   (pág. 65)
               
    Pensando bem, não vou terminar a citação. O melhor é que você mesmo faça o mergulho neste “mundo de fadas adulto” e tire suas próprias conclusões. E não deixe de voltar aqui no Ideias de canário e fazer seu comentário sobre o que achou da leitura de Contos infantis tornam-se adultos. Só o que posso adiantar é que nunca mais você lerá um conto de fadas tradicional da mesma maneira.

SOBRE A AUTORA:
Sun Holiver
Gaúcha, reside em Porto Alegre, escritora, historiadora, museóloga, educadora na área das Ciências Sociais. Admiradora dos mistérios de Agatha Christie, fez-lhe uma homenagem ao escrever "O assassinato de Agatha Christie", publicado pela Editora Soler/2007.
A autora alia a imaginação, inspirada nas histórias que ouvia da avó na infância, aos conhecimentos acadêmicos e  vivências de viagens para criar suas obras e podemos esperar pelo menos mais três obras (excelentes, eu garanto) pra muito breve.

11 comentários:

  1. Não acredito que você me deixou curiosa mesmo pra saber qual é a continuação da citação!!!

    aaaah

    Gostei muito da resenha! Eu gosto muito da temática contos de fadas revisitados... e se você diz que não é acadêmico eu acho que vou gostar! Ultimamente os acadêmicos me afastam! rs

    Ou seja, gostei muito!!!

    Sa
    http://mundo-sa.blogspot.com

    ResponderExcluir
  2. Olá, querida Sa,

    é um prazer ter tua presença comentando por aqui.
    fico feliz que tenhas gostado, o livro é realmente muito bom.
    Volte sempre.
    bjokk,
    Cármen.

    ResponderExcluir
  3. Cármen!
    Bom ver remix dos contos e com uma abordagem psicológica e simbólica das histórias que regaram nossa infância.
    Sou bem fã da Agatha também.
    "Nós somos o que fazemos repetidas vezes. Portanto, a excelência não é um ato, mas um hábito." (Aristóteles)
    BOM FINAL DE SEMANA!!
    Blogueiras Unidas 1275!
    Luz e paz!
    Cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  4. Obrigada, pela participação, Rudy.
    O livro tem uma visão bem divertida do assunto.
    Bom "findi" pra ti também.
    bjokk,
    Cármern.

    ResponderExcluir
  5. Oi, Cármen.
    É sempre bom ver lançamentos com abordagens inovadoras. Aliar a imaginação com conhecimentos acadêmicos me parece uma boa química. Que simbologia haverá por trás, por exemplo, de Chapeuzinho Vermelho, história que eu ouvia quase todos os dias com meu irmão quando nossa vitrolinha rodava o vinil vermelho com esse conto infantil? Curioso para saber :)
    Parabéns como sempre pela resenha.
    Bjs.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, amigo Sérgio.
      Ah!, essas coisas da infância que ficam marcadas em nós rsrsr
      Tu falas em vinil vermelho e eu viajo no tempo, muito bom isso.
      Vale a pena ler, com certeza vais gostar muito da abordagem de Sun Holiver sobre o assunto.
      Abç,
      Cármen.

      Excluir
  6. Oi Carmem tudo bem? Foi um prazer recebe-la no Blog, achei muito interessante a postagem, estudei a respeito dos contos infantis e seus conteúdos ocultos cruéis que preparam a criança p o mundo adulto na faculdade, na época me interessei tanto que pensei até em fazer o mestrado sobre o assunto, mas depois desisti! Gostei muito do Blog! Já fiquei com vc! Abraços

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Kellen.
      Feliz com tua participação por aki, na minha "marupiara", adorei o significado: "o que me faz feliz", o que me faz feliz é a literatura.
      A leitura de "Contos infantis tornam-se adultos" é extremamente agradável, leve e e divertida.
      bjokk,
      Cármen.

      Excluir
  7. Oi Cármen, querida, como vai?
    Amei a resenha e de fato, essa ''onda'' está sendo lançada mundo a fora e nos da um outro patamar de ideias!
    Muito bom sempre vir visita-la e descobrir oportunidades realmente únicas!
    Beijocas =*

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Jéssica, querida.
      Bom te ver por aqui.
      Espero que gostes da leitura de "Contos infantis tornam-se adultos", em breve.
      bjokk,
      Cármen.

      Excluir
  8. A Sa me indicou seu livro e eu fiquei aqui curiosa pra ler. Adoro contos de fadas!

    Beijos!

    ResponderExcluir