Boa noite, caríssimos amigos das ideias.
Olha, eu estava com uma baita saudade de aparecer por aqui e compartilhaar com vocês um pouco das maravilhas que a Literatura nos oferece.
Mas não tem sido possível, prioridades em foco e coisaetal e talecoisa dessa vida moderna. O negócio é aproveitar, quando dá.
E vamos a resenha, que é o que realmente interessa!
Pessoa nascida no século XX (rsrs), demoro um pouco para engrenar na leitura de e-books(ponto negativo pra mim), então veio o trabalho, o início de uma outra atividade, enfim... cá estamos. Depois de acertar o passo com a leitura digital, não era sem pesar que esperava a hora de ler, anotar - a noite, para mim, é horário propício - e organizar as ideias para a resenha.
Estou fazendo essas considerações porque acredito que seja essa a função de um bom livro, de ficção ou não: envolver, fazer refletir, transcender a própria narrativa e seus personagens, despertar para os situações que aborda na própria vida do leitor, ainda mais quando se trata da relação pais/filhos (ponto positivo para "Condenáveis").
Creiam, pensei muito ao longo da leitura sobre a relação com meus filhos, sobre as coisas que espero(se é que tenho esse direito) e sobre o que será que eles esperam de mim e do pai.
A narrativa é em primeira pessoa e isso dá o ritmo perfeito para que o leitor embarque de cabeça na história. É através dos olhos e dos sentimentos de Leonardo que tomamos conhecimento da sua história (uma profunda reflexão e desabafo) a partir da infância, passando pela adolescência até o presente, construindo a figura paterna. Ele literalmente "passa a limpo" a presença do pai em sua existência, faz um balanço de sua infância, da relação com a mãe que o criou, do papel da avó e, principalmente, da sua "não-relação" com o pai.
O jovem e competente autor, realista e objetivo, coloca-se sem hipocrisia, assume suas fragilidades, vergonha dos amigos, orgulho, incertezas diante do futuro, uma vez detonada à "bomba que caiu em seu colo" em 2011, ao saber através da imprensa sobre o envolvimento do pai em um esquema ilegal de armas com a participação de policiais e traficantes do Rio de Janeiro.
"Olhei para a minha mãe como quem busca uma
explicação. Eu tinha 21 anos e não era mais nenhuma
criancinha, mas era assim que me sentia: como se ela pudesse
me dizer que tudo não passava de um mal entendido e que
iríamos ficar bem."(pág. 7)
A partir do momento em que vê concretizado diante dos olhos todos os motivo do mundo para odiar o pai, com quem sempre conviveu por obrigação (ou imposição materna) durante a infância, Leonardo dá início a uma viagem retrocedendo a sua infância e podemos acompanhar, uma após a outra, as situações que fizeram com que a figura paterna fosse (des)construída por parte do filho, a quem não agrada sequer ter o mesmo nome, nem parecer-se fisicamente com o inspetor "Trovão". (Aqui faço um aparte, como mãe: será que realmente chegamos a entender nossos pais, antes de termos nossos filhos? Particularmente, tenho provas de que não, mas não há um ser humano igual ao outro sobre a terra).
Por tratar-se de uma história real e de domínio publico, cujos protagonistas fazem parte da História recente do país, muitas vezes fui levada a pesquisar algumas coisas, principalmente fotos e reportagens (que o próprio autor também teve o cuidado de incluir em sua narrativa).
"Condenáveis-uma história de filho e pai" é uma a narrativa que, definitivamente, estrapola as páginas(ou rolagem rsrs) do livro e nos leva além. Não há como ler "Condenáveis" sem ser tomado sensação de "quero saber mais sobre isso, quero pensar mais sobre o assunto".
Finalizo destacando alguns trechos que marcaram as minhas sempre inquietas ideias de canário, reflexões e afirmações bravamente colocadas pelo autor, muito poucas pessoas sairiam tão bem resolvidas de um conflito tão profundo quanto esse (ponto para o Leonardo Torres):
"Como você pode saber se eu não fui trocado na
maternidade? – valia tudo, até mesmo perder a minha mãe, para
ter outro pai. Com sorte, eu teria duas mães ao descobrir a
minha família de verdade. Eu detestava meu pai."(30)
" ... as memórias mais antigas que eu tenho
são as de um homem alto e forte, com perfumes que nunca me
agradavam (tenho rinite alérgica), indo me buscar nos fins de
semana. Diziam que ele era meu pai. Para mim, era a
materialização do Bicho-Papão. Lembro-me como se fosse
ontem." ( 31)
"Então, o que ele queria, na verdade, era que eu me
parecesse com ele. Apenas tenho dúvidas se ele desejava que eu
seguisse seus passos ou fosse como ele gostaria de ter sido."(34)
10 coisas que aprendi lendo "Condenáveis-uma história de filho e pai"
- Tenho razão em não assitir Fantástico nos domingos á noite.
- Ter a vida abalada por uma notícia de TV não é fácil.
- A beleza da Patrícia Poeta nem sempre ameniza uma notícia ruim.
- Filhos homens nem sempre admiram e respeitam o pai.
- Um pai pode não ser o herói que o filho espera.
- Lembrar que por trás dos protagnistas de uma bombástica notícia de jornal sempre há famílias e sentimentos envolvidos.
- Jamais esperar que meus filhos gostem das mesmas coisas que eu, e respeitar isso.
- Crianças podem ser mais maduras do que pensamos.
- Não forçar a barra com os sentimentos porque "não se ensina a amar".
- Confirmar a certeza do quanto um pai marca a vida do filho (para o bem, ou para o mal)
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Leonardo Torres é jornalista especializado em cultura e entretenimento.
Nascido e criado no Rio de Janeiro, autopublicou o livro "Condenáveis -
Uma História de Filho e Pai" em 2012 e atualmente escreve sobre música
pop para o site POPLine e administra o blog Fala, Leonardo! |
Em tempo, amigos das ideias:
Inaugurando a partir dessa resenha, a classificação das ideias de canário com uma imagem bem óbvia:
Condenáveis, uma história de filho e pai, de Leonardo Torres:
Até a próxima!
Cármen Machado.